Fear of Normal é a nova ansiedade pós pandemia
Após todos os impactos emocionais trazidos pela pandemia, com inúmeras mudanças bruscas e perdas em diversos aspectos para todos, à medida que o mundo vai voltando ao normal, surge um novo desconforto nomeado recentemente de FONO, sigla para Fear of Normal.
A ação é caracterizada pelo medo de voltar à normalidade e o estranhamento em não se adaptar mais, às atividades que na pré pandemia eram normais.
Estávamos vivendo normalmente quando fomos arrebatados pela pandemia, é entendível que voltar ao normal agora traga inseguranças, já que novos episódios imprevisíveis podem acontecer, ao mesmo tempo que passamos a nos proteger muito e criamos diferentes maneiras para se adaptar, tornou a exposição e reestruturação de uma nova realidade, algo conflitante para se acostumar.
O The New York Times, no artigo “Are You Nervous About Returning to a normal Life?”, aborda sobre essas contradições que sentimos ao querer retornar as nossas vidas e agora que é possível seguir em frente, surge a sensação de estranheza à antiga normalidade.
A Todas Group realizou uma pesquisa em suas redes e obteve resposta de 1667 mulheres, em que 78% afirmaram que não querem voltar à vida pré-pandemia. Quando questionadas sobre o que mudou em suas vidas em dois anos e quais itens não desejam voltar a vivenciar, as principais respostas foram em relação à consciência de tempo, valores e flexibilidade.
“Gastar tempo com as coisas certas faz grande diferença na minha vida, menos trânsito e mais cafés da manhã com calma melhorou minha produtividade e bem estar durante o dia”, foi a resposta de Giovana Vidmar, gerente de marketing da Avon e participante da pesquisa.
Para Gabriela Ferreira, Head of Talent Management da Johnson & Johnson, o pós pandemia trouxe novos desejos. “Quero manter a sabedoria para priorizar a família e os momentos simples do dia a dia, como buscar meus filhos na escola, fazer exercício e realizar refeições juntos a eles. E entender o que realmente precisa ser presencial no trabalho e o que pode e deve ser virtual. No fim é ter a flexibilidade para poder curtir os momentos do dia a dia, sem entrar no piloto automático da pressão e correria do trabalho, tendo mais intencionalidade nas minhas entregas e prioridades”, conclui.
Os dados coletados no Todas se aproximam com a pesquisa feita pelo Fórum Econômico Mundial, que analisou 20 mil pessoas em 27 países, em que 72% relataram não querer voltar à sua vida e rotinas pré-pandemia. Esse tópico inclusive foi destaque no relatório de futuro para 2024 da WGSN, sigla para Worth Global Style Network, referência global em previsões de tendências que colocou o FONO como ponto chave, para muitas mudanças de comportamento do consumidor e valores para força de trabalho.
Como lidar com essa sensação de não reconhecimento do que acreditávamos estar buscando e gerenciar as sensações negativas trazidas pelo FONO?
O jornal Washington Post convidou a Dra. Lucy McBride, especialista em saúde mental para falar sobre FONO que trouxe perspectivas sobre o assunto. Segundo ela, após tudo que vivemos é compreensível que haja um pedágio emocional pós trauma e ambivalência em ponderar sobre o futuro.
O conselho dado pela médica para quem está vivendo FONO é semelhante para quem passou por grandes interrupções na vida. O primeiro passo é nomear e normalizar o que se sente, conhecer que tal desconforto é um obstáculo emocional e mundial e não algo inerente a você. Com isso, é possível desbloquear ferramentas de ajuda no lugar de entrar em modo negação, o que tecnicamente só piora os sintomas.
Dicas do Todas Group
Aqui no Todas, temos a autora do livro “A psiquiatra do estilo de vida” e professora de equilíbrio emocional Dra Ana Paula Carvalho, psiquiatra Harvard Medical School, que traz dicas simples e práticas para agir no momento de desconforto, aumentando seus índices de consciência de progresso e bem estar.
A primeira dica é criar um diário emocional, assim no momento que surgirem pensamentos irracionais e angustiantes, escrever como se sente vai além de externar sentimentos negativos, te dará clareza sobre os verdadeiros pontos de conflito. Com o passar dos dias, você também conseguirá ver seu progresso em bem estar e perceber como sentimentos que eram muito fortes foram aos poucos se tornando menos dolorosos, te trazendo confiança para os próximos passos e a visão de que com o tempo, os cenários vão melhorando.
A segunda dica é tirar um tempo para você. Coloque na sua agenda algo que te dê prazer e te faça relaxar. Explorar esse tempo consigo mesma, aumentará seu nível de bem estar para lidar de forma mais equilibrada com situações desafiadoras do FONO. Uma das maneiras é apostar em exercício físico que fará a diferença para o sistema hormonal e trará leveza para lidar com desafio.Acrescente alguma opção de atividade física na rotina, nem que seja optar por escadas no lugar de elevador ou parar mais longe do trabalho, assim irá caminhando.
E por fim, construa uma rede de apoio, desde uma amiga que você possa falar abertamente sobre seu momento, até suporte no ambiente de trabalho ou um profissional. Independente do que você está vivendo, passar por esse momento com apoio torna o processo menos difícil, sentir-se sozinha tem um impacto prejudicial a saúde, algo equivalente a fumar 15 cigarros por dia.
Lembre- se que FONO é uma questão global da sociedade atual e existem milhões de pessoas no mundo passando por questões similares. Falar sobre isso é fundamental para ajudar a si mesma e TODAS que estão ao seu redor.