Imagine um cenário comum no mundo corporativo: um homem e uma mulher, ambos altamente qualificados, disputam a mesma promoção. No papel, suas trajetórias são semelhantes, mas, ao longo dos anos, a profissional enfrentou desafios invisíveis. Foi interrompida mais vezes em reuniões, teve menos acesso a mentores estratégicos e recebeu avaliações de desempenho influenciadas por vieses inconscientes.
Esses fatores, que muitas vezes passam despercebidos, podem ser medidos. E, quando mensurados, podem ser corrigidos.
“O que não é medido, não é gerenciado.”
A frase, amplamente difundida no mundo dos negócios, também se aplica à equidade de gênero. Muitas empresas afirmam valorizar a diversidade, mas poucas realmente analisam os dados para entender onde estão os gargalos que impedem a ascensão de mulheres à liderança. Será que as promoções seguem critérios justos? Existem diferenças salariais ocultas? As mulheres recebem as mesmas oportunidades de crescimento que os homens?
Sem dados, essas perguntas ficam no campo da percepção. Com People Analytics, elas se transformam em respostas concretas e estratégias acionáveis.
No ambiente corporativo, o uso de dados para otimizar processos, prever tendências e embasar decisões financeiras já é uma prática consolidada. No entanto, quando se trata da gestão de pessoas – e, especificamente, da equidade de gênero –, muitas organizações ainda operam sem métricas claras, baseando-se apenas em percepções e boas intenções.
É aqui que o People Analytics se torna um divisor de águas. Ao estruturar a coleta e análise de dados sobre contratação, promoções, remuneração e retenção de talentos, as empresas podem identificar padrões ocultos, eliminar vieses inconscientes e tomar decisões mais estratégicas para impulsionar a diversidade e a inclusão.
Mas como os dados podem, de fato, transformar esse cenário? Quais métricas realmente importam para promover lideranças femininas? E como o uso inteligente do People Analytics pode gerar impacto tanto na equidade de gênero quanto na performance empresarial?
Neste artigo, exploramos essas questões, trazendo insights, estatísticas e cases de sucesso de empresas que já utilizam essa abordagem para criar ambientes corporativos mais diversos, inclusivos e eficientes.
O que é People Analytics e por que é essencial?
People Analytics é o uso de dados e análises estatísticas para embasar decisões sobre pessoas dentro das organizações. Ao transformar percepções em insights mensuráveis, essa abordagem permite:
- Identificar padrões e tendências no comportamento e desempenho dos colaboradores;
- Medir o impacto das iniciativas de diversidade e inclusão;
- Antecipar desafios relacionados à retenção de talentos;
- Direcionar estratégias de desenvolvimento e promoção.
A análise de pessoas, a aplicação de métodos científicos e estatísticos a dados comportamentais, tem suas origens no clássico de Frederick Winslow Taylor Os Princípios da Gestão Científica em 1911, que buscou aplicar métodos de engenharia à gestão de pessoas.
Mais de um século depois, a tecnologia revolucionou o setor. Com o avanço da inteligência artificial (IA) e das ferramentas analíticas, a automação permite avaliar grandes volumes de dados e aprimorar todas as fases da gestão de talentos, desde o recrutamento até a promoção e retenção.
Em 2022, a McKinsey publicou que a maioria das grandes organizações conta com equipes de People Analytics para embasar decisões estratégicas. Os números impressionam: 70% dos executivos consideram a análise de pessoas uma prioridade estratégica. Além disso, segundo a Frost & Sullivan, o mercado global de big data deve atingir US$ 68 bilhões até 2025.
O impacto do People Analytics também é evidenciado pela Deloitte Global Human Capital Trends 2024, que mostra como colaboradores e líderes reconhecem os benefícios dos dados tanto para os negócios quanto para os resultados individuais.
Como destaca Maria Alice Jovinski, parte da Society for People Analytics:
“Se queremos falar sério sobre equidade de gênero, precisamos ir além da intuição e usar dados para enxergar o que realmente acontece. People Analytics nos permite identificar onde estão os gaps – desde a representatividade em cada nível da empresa, diferenças salariais, vieses nos processos seletivos e acesso a redes de influência. Com esses insights, conseguimos transformar desafios invisíveis em iniciativas para criar um ambiente mais justo e inclusivo.“
Entretanto, apesar do potencial do People Analytics, ainda há desafios. Apenas 9% das empresas afirmam ter uma compreensão clara das dimensões do talento que impulsionam o desempenho organizacional. O caminho para a equidade de gênero ainda é longo, mas os dados podem acelerar essa transformação.
People Analytics e gênero
A desigualdade de gênero no ambiente corporativo ainda é uma realidade, e People Analytics surge como uma ferramenta essencial para mapear e corrigir essas disparidades.
Ao coletar e analisar dados sobre contratação, promoções, equidade salarial e retenção, as empresas podem tomar decisões mais assertivas para promover um ambiente mais inclusivo.
Empresas inovadoras já utilizam People Analytics para:
- Identificar padrões de viés inconsciente em processos seletivos;
- Analisar a equidade salarial e criar estratégias para eliminar a diferença de remuneração entre homens e mulheres;
- Medir a progressão de carreira e garantir que mulheres tenham oportunidades equivalentes às dos homens;
- Monitorar o engajamento e a satisfação das colaboradoras, criando políticas que favoreçam sua permanência e crescimento na organização.
Estudos de instituições como Harvard Business Review, Deloitte e McKinsey mostram que empresas que investem em diversidade e inclusão alcançam um têm um desempenho financeiro superior. Ou seja, People Analytics não apenas ajuda a corrigir desigualdades, mas também gera vantagem competitiva para organizações que o utilizam estrategicamente.
Tratando especificamente do impacto da tecnologia na redução de vieses, Torin Ellis publicou o estudo Reducing Bias in HR using Artificial Intelligence, que aponta que apenas 27% das empresas utilizam IA para mitigar preconceitos, apesar do potencial dessa tecnologia para automatizar processos e minimizar julgamentos subjetivos.
O relatório Insight222 People Analytics Trends 2024 destaca que:
- 68% das empresas consideram a IA uma prioridade estratégica para RH;
- 60% já investem em bases de dados robustas para maximizar as oportunidades da IA;
- 36% utilizam análise de sentimento para avaliar feedbacks dos funcionários e criar estratégias mais eficientes.
Um case de destaque é o da Schneider Electric, que desenvolveu o Fair Pay Simulator, um aplicativo que permite modelar cenários e implementar ações para atingir a meta de equidade salarial antes de 2025.
No Brasil, o 2º Relatório de Igualdade Salarial e Transparência do Governo Federal (2024) revelou que as mulheres ainda recebem, em média, 20,7% a menos do que os homens em empresas com 100 ou mais empregados. O relatório analisa critérios remuneratórios, políticas de contratação e promoção de mulheres, além de iniciativas de apoio à equidade de gênero.
Segundo David Green, referência global em People Analytics:
Fundamentalmente, um bom plano estratégico para Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) começa com uma reflexão e uma coleta de dados para entender o que você está tentando resolver. People Analytics é a base para nos responsabilizarmos pela criação de locais de trabalho inclusivos, onde podemos mostrar que, por meio dos dados, estamos fechando as lacunas para que todos no trabalho possam ter a mesma experiência.
O impacto estratégico do People Analytics
Estudos mostram que organizações mais diversas são mais inovadoras e produtivas. Investir em equidade de gênero, portanto, é um diferencial competitivo.
O relatório Women in Business 2024, da Grant Thornton, destaca que empresas que medem indicadores claros de DEI apresentam desempenho superior. Além disso, há uma relação direta entre a porcentagem de novas contratações femininas e a ocupação de cargos de liderança por mulheres.
O estudo aponta que a mensuração desses indicadores impacta diversos aspectos da organização, permitindo ajustes estratégicos que aceleram a equidade de gênero e impulsionam resultados.
A evolução do People Analytics não apenas otimiza processos internos, mas também reforça o papel estratégico da diversidade. Com o avanço da IA, as empresas têm a oportunidade de implementar soluções preditivas que identificam lacunas e aceleram a inclusão feminina.
O estudo Women in Business 2024, da Grant Thornton argumenta que “se houver indicadores claros de mensuração de DEI, as empresas terão um desempenho superior ao padrão de referência global.”. O estudo aponta que a simples medição “da porcentagem de novas contratações de mulheres também está associada a percentuais mais elevadas de cargos de liderança ocupados por mulheres.
O estudo aponta que as medições, tem impactos diversos:

Perspectivas para o futuro
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um compromisso global adotado por todos os Estados-membros da ONU, estabelece como meta atingir a igualdade de gênero até o final da década. Isso reforça a necessidade de dados e medição precisos para avançar nesse objetivo.
Na Todas, somos parcerias estratégicas do movimento Elas Lideram, que é parte do Pacto Global da ONU no Brasil, para a agenda 2030.
People Analytics está no coração da Todas. Baseada em neurociência, inovação e dados estratégicos, garantimos impacto real. Nossa metodologia foi criada a partir de uma pesquisa de cinco meses com as 40 maiores lideranças da América Latina, mapeando as principais habilidades que as levaram ao topo.
Esse conhecimento nos permitiu desenvolver um método ancorado em neurociência e validado por People Analytics, gerando resultados concretos na equidade de gênero e aceleração de carreiras femininas.
Comprovamos que dados são a chave para ambientes corporativos mais justos, inovadores e produtivos. Nossa abordagem transforma iniciativas de diversidade em mudanças estruturais e sustentáveis, gerando impacto real.
People Analytics não é apenas uma tendência, mas uma necessidade para o futuro do trabalho. Empresas que utilizam dados para impulsionar a liderança feminina e a equidade de gênero garantem um crescimento mais sustentável, inclusivo e competitivo.