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Será que você não está pedindo desculpas demais?

Mulheres no trabalho enfrentam estereótipos e pedem desculpas excessivas por não erros.

A pesquisa da McKinsey & Company Women in the Workplace deste ano mostra que 32% das colaboradoras entrevistadas já baixaram o tom de voz para não serem consideradas agressivas, 31% delas não compartilham suas opiniões para não serem rotuladas como difíceis de lidar, 21% delas já viram suas ideias creditadas a outras pessoas, 22% já foram interrompidas durante reuniões e 12% já tiveram seu estado emocional questionado por algum colega de trabalho.

O estudo ainda revela um comportamento muito comum no Brasil: mulheres que sofrem microagressões diárias são quatro vezes mais propensas a se sentirem preteridas em promoções ou oportunidades de avanço na carreira.

As pesquisas e estatísticas são fundamentais também para nossas reflexões diárias.

Uma das questões principais para mim foi sobre como me posiciono diante desse cenário bastante desfavorável.

Enquanto, por um lado, trabalho ao lado de outras mulheres para mudar esse contexto, por outro lado, penso em como eu e outras mulheres podemos nos blindar do que acontece atualmente (e que não muda do dia para a noite).

Já notou quantas vezes você pede desculpas por “não erros”?

Na tentativa de buscar mais dados sobre o assunto, deparei-me com artigos científicos e de opinião que abordam o fato de as mulheres se desculparem muito mais frequentemente do que os homens, em vários aspectos da vida.

Publicações feitas em 2010, 2015, 2020 e 2023 relatam pesquisas de americanas, canadenses, chinesas e brasileiras.

Em um dos episódios do podcast Women at Workplace, produzido pela Harvard Business Review, a pesquisadora e professora da Universidade de Petersburgo, Karina Schumann, compartilha suas principais descobertas do estudo “Why Women Apologize More Than Men” (Por que as Mulheres se Desculpam Mais do que os Homens, em tradução livre).

Os motivos são variados: estereótipos rasos e antigos, a normalização de um padrão de comportamento que nos faz encolher diante de algumas situações, expectativas diferentes em relação às mulheres e aos homens, locais de poder ocupados por ambos, entre outros.

Mas o que fazer no dia a dia para tentar minimizar os efeitos psicológicos que o sentimento de estarmos sempre na iminência do erro causa?

É fundamental lembrar que sim, mulheres cometem erros assim como os homens, e se desculpar faz parte de reconhecer tais erros e validar os sentimentos de quem foi ofendido.

Tão fundamental quanto é lembrar que, ao mesmo tempo em que nós pedimos desculpas demais, talvez os homens peçam desculpas de menos, por isso todos nós podemos rever nossas posturas.

Falando dos “não erros” pelos quais vivemos constantemente nos desculpando, os mais comuns para mim são: “desculpa a demora para responder”, “desculpa por te interromper, mas tenho uma consideração”, “desculpa por não ter dado tanta atenção a isso”, “desculpa por não me dedicar tanto quanto eu gostaria a isso” – parece que estou sempre em dívida com as pessoas, quando na verdade, em todos os aspectos da vida, precisamos priorizar algumas coisas e estender os prazos de outras.

A ideia não é relativizar nossos erros, mas colocá-los em perspectiva: o que realmente fiz de errado e o que eu apenas deixei para outro momento? Quais foram minhas falhas e quais foram as situações em que apenas expressei minha opinião?

Demorar para responder uma mensagem no WhatsApp não é um erro, é um direito de todos nós – vamos lembrar que o aplicativo é de mensagens instantâneas, não de respostas instantâneas.

Adiar um assunto porque outros precisam ser priorizados faz parte da vida de qualquer pessoa – principalmente de quem, como eu, é mãe (os imprevistos são muito mais frequentes).

Entender que minha dedicação não é infinita, que é um recurso limitado e, portanto, será direcionada para o que mais precisa de atenção naquele momento, não é um erro, é uma forma de preservar, inclusive, minha saúde mental.

Por todas essas situações, não peço mais desculpas.

Não me coloco mais no lugar de quem está sempre falhando de um lado para atingir objetivos do outro.

Reservo o direito de me desculpar para os momentos em que realmente piso na bola com alguém, até para não banalizar a atitude de reconhecer meu próprio erro e mostrar-me arrependida e empenhada em não repeti-lo.

Troquei o “me desculpe” por outras expressões, como: “obrigada por me lembrar de ver essa questão”, “vou fazer apenas uma interrupção aqui, para colocar um ponto que considero importante”, “vou retomar esse projeto assim que concluir outro com o qual estou envolvida”, “obrigada por me aguardarem, vamos começar?”, “obrigada por compreender minha ausência momentânea, estava envolvida com algumas outras questões” e, para contribuir com mais mulheres: “não precisa se desculpar por isso, você não fez nada de errado, vamos retomar a partir de agora”.

Percebo que precisamos desenvolver a habilidade de diferenciar o erro propriamente dito do “não erro” para o qual nos acostumamos a pedir desculpas.

O trabalho nisso é grande e pode parecer cansativo no início, mas é libertador com o passar do tempo e tem um impacto importante na segurança psicológica de todas as pessoas que convivem conosco.

Deixamos de nos sentir devedoras e passamos a focar no que realmente importa: nossa potência em transformar um contexto subserviente em um ambiente de empatia genuína.

Faço um convite a todos, homens e mulheres, que gostariam de dominar a habilidade rara de distinguir erros de decisões: reflitam mais sobre os momentos em que pedimos desculpas sem precisar, deixemos de nos desculpar quando for realmente necessário e, principalmente, nas situações em que podemos simplesmente descartar os pedidos de desculpa.

Dhafyni Mendes | Co-fundadora do Todas Group

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